Legal é ser cidadão
Jorge gritou para a turma: “E aí, quem é o primeiro?” E o bate-boca começou: “Eu sou o primeiro!” “Que isso, cara? Quando você chegou, eu já estava aqui. Lembra?” “Lembro, mas eu sou o primeiro.” “Você acha que sou mentiroso? Vou te lembrar agora. Para com isso!” “Pera aí, gente, calma.” O grupo ainda era pequeno, e Jorge colocou ordem na casa: “Pra frente aí, chega lá. Isso, você fica aí. Muito bom, muito bom.” Quando a bilheteria abriu, a multidão estava tranquila, ninguém no prejuízo. Fila de banco, supermercado, sacolão, para comprar passagem rodoviária, fazer matrícula, entrar no estádio… ninguém gosta de filas. Seria ótimo se elas não existissem. E se Jorge não organizasse a fila antes da bilheteria abrir?
As filas fazem parte da vida em sociedade e são um ótimo exemplo das regras que ela nos impõe. A ideia de fila ajuda a entender outra coisa que muitas vezes não vemos com bons olhos: a lei. As regras que nos indicam como agir facilitam a vida e evitam problemas maiores. Jogo sem regras só existe se for o jogo do “eu sozinho”. No futebol, bola na rede é gol; bola na mão pode ser falta ou pênalti. Já o vôlei é jogado com as mãos; bola na rede pode ser erro, e bola no pé não é jogada das mais elegantes. Quem pratica esses esportes sabe disso e não mistura as bolas, muito menos as regras.
Tem coisa pior do que o esperto que fura fila? Sim, o chato que pede ao amigo para quebrar o galho, como se mais ninguém estivesse esperando. Muita gente tem vergonha de reclamar, finge não ver e não fala nada para evitar confusão. Prefere arcar com o prejuízo do que lutar para que a lei seja obedecida. Na fila do banco, comprando um ingresso para o teatro, e aí vem alguém e passa na frente de todo mundo. Muita gente tem vergonha de chamar o cidadão à responsabilidade e dizer: “Pera lá, eu estou aqui há muito tempo e você chega na maior e fura a fila. Por que você pode?” Grande bobagem, porque respeitar as regras é dever de todos. Na verdade, temos que perder esse medo de parecer ridículos por brigar por algo que é nosso direito. Apontar quando alguém está lesando você em seus direitos é um dever.
Na escola, há hora para tudo: dever de casa, orientação para as atividades de classe. Em casa, há regras que garantem o espaço das pessoas e a boa convivência. Quando o assunto é saúde ou construção de uma casa, por exemplo, outras regras devem ser obedecidas: normas técnicas de higiene, segurança, etc., estabelecidas por conselhos de medicina e engenharia, pela prefeitura. No trabalho, na religião, no esporte e até no amor, nos sujeitamos a regras, não importa que nome elas tenham. O que você faz quando vê alguém furando fila, jogando lixo na rua, desrespeitando a lei?
O Brasil é um estado democrático de direito. Isso quer dizer que o poder político é exercido pelo povo por meio de representantes eleitos. São eles que fazem as leis para todos os cidadãos cumprirem, inclusive eles mesmos. Ninguém está acima da lei, ninguém está acima da regra do jogo. Não somos governados por um sistema inexplicável nem por um monstro estranho fora de controle. Somos governados por leis aprovadas por pessoas que escolhemos para fazê-las. Ao votar, iniciamos um longo caminho que pode nos levar a leis boas ou más. Quem exerce o poder também está sujeito às normas legais. Já pensou na reação do pessoal se Jorge, que organizou a fila no começo, fugisse das regras combinadas? Se ele, por exemplo, achasse que devia ser o primeiro da fila por ter tido a ideia de organizá-la? No século XXI, não dá para aceitar que o estado e os governantes fiquem acima das leis. O legislador não pode fazer leis que anulem o poder dos membros do executivo, legislativo ou judiciário.